sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Precisava, inevitavelmente, descrever todas aquelas coisas que viu e cheirou e ouviu e presenciou e sentiu. Alguns dias já haviam passado e todas aquelas emoções e sentimentos e experiências ainda faziam aflorarem seus nervos. As fotos faziam que retornasse a todos os lugares por onde passou, especialmente aqueles que não foram ou não puderam ser registrados. A vontade de flutuar uma vez mais naqueles ares distintos, de permanecer em outra realidade não tão real só aumentava a cada relato, a cada experiência narrada. A intensidade dos momentos vividos causou nela alguma consequência que ainda tentava entender. Apenas alguns dias não seriam capazes de fazê-la digerir tudo aquilo que sentiu e pensou ao vivenciar aquelas experiências. Algo estava diferente, algo havia mudado dentro daquele ser já bastante confuso e sensível. Já não era a mesma, e precisava, agora, voltar ao mundo de antes e readaptar-se. Ou não.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Palacete

Era una casa pequeña y las únicas paredes de dentro eran las que delimitaban el baño. Había pocos muebles, lo bastante, sin embargo, era un lugar bello y acogedor, de donde se podía mirar el mar. Los árboles que había en el alrededor de la casa le daban un aire sencillo y encantador. Las olas del mar, que estaba tan cerca, sonaban como una canción que apaziguaba el espíritu de la chica, dueña y amante de ese agradable palacete.
En las noches en que el cielo se quedaba limpio, la claridad de la luna adentraba por las ventanas grandes y sin cortinas, alumbraba la cama y producía sombras y reflejos por toda la casa. No había vecinos, no pasaban coches por allí, tampoco se podía oír los sonidos tan comunes a las grandes ciudades. Era un refugio lejos de todo y de todos.
Para poner en orden su vida, la chica solía apartarse del mundo real, y era ese el sitio donde le gustaba quedarse. Era ese el lugar donde sus pensamientos parecían arreglarse. Era ese su palacio, donde el tiempo no más huía de sus manos. Era ese su hogar.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sobre odiar alguém

DEVE HAVER UMAS TRÊS FORMAS, pelo menos, de dizer o quanto você odeia alguém. Não que elas não possam ser combinadas (até devem), mas são usadas conforme a importância que o sujeito-alvo tem para você.

A primeira é o sarcasmo, aquele tempero que estraga a comida quando você já está terminando de mastigar; é quase um gole de refrigerante delicioso, mas que você descobre, decepcionado, que é diet. Basta concordar, ser a pessoa mais condescendente do mundo e, em um instante, tudo com o que você acabou de concordar com tanta ênfase significa uma completa negação. O que pode ser melhor que o sarcasmo, não é mesmo?

Você também pode passar a utilizar a variante monossilábica do português. Todos os “sim” e os “não” vão significar, necessariamente, que você pouco se importa. Aliás, há aqueles que aprimoraram essa técnica criando a variante bovina-concordativa. Hmmm, aham...

Mas a pior delas, a mais cruel, a mais cantada pelos poetas que com ela sofreram é a total e absoluta indiferença. A partir de agora você simplesmente deixou de existir. Não é que você morreu, tão-somente você jamais significou-me coisa alguma. Inclusive nem me importo com minha própria indiferença que supus ter. Com licença.

Ainda assim, essa última forma de odiar alguém é paradoxal. Se você merece tal tratamento é porque atingiu-me de tal forma que se eu tiver que te odiar, só sou capaz de te odiar assim. Deve haver umas três formas, pelo menos, de dizer o quanto você ama alguém.

Nunca mais olhe nos meus olhos.

 
 
[Esse texto não foi escrito por mim. Ele é de autoria do meu querido amigo Carlos Pierrot, e por ter presenciado a criação, lido o rascunho e me encantado por ele, resolvi colocar aqui.]

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Por não conseguir alcançar o céu, contentou-se em comer estrelas.

terça-feira, 8 de março de 2011

Théatron

Era a convivência harmônica do preto e do branco. Era uma divisão simétrica. Por si só, era capaz de encantar. Mas não tinha escolha, seu destino era ser palco daqueles espetáculos assustadores. Era o lugar perfeito para aqueles movimentos todos, por menos que gostasse deles. Cada vez que uma nova apresentação se iniciava, não podia mais dormir.
E não poderia haver espetáculo sem bailarinos. Eles ficavam todos organizados, colocados em seus lugares a espera de um comando. Dispostos por ordem de importância tinham por função proteger o maior deles, o mais importante. A linha formada na frente era como um muro, mas que podia mover-se. Cada um com sua função batalhavam todos como em uma guerra. Seus movimentos eram coordenados por alguém ainda maior, ainda mais importante que aquele que era protegido. Alguém capaz de observar os dois lados da batalha. Alguém que lutava com outro alguém. Sim, eram dois. Dois seres responsáveis pelo comando daquela guerra. Cada um com seu exército, comandando de forma encantadora aquela batalha.
Duelos sangrentos podiam ser travados ali. Não que pudesse sentir o sangue dos guerreiros, mas cada vez que uma nova guerra começava, aquele palco se amedrontava. Não era capaz de expulsar os guerreiros, nem mesmo podia comandá-los. Quando eles chegavam, podia apenas observar mais uma guerra em andamento. Sabia que logo acabaria. Sabia que eles voltariam a seus lugares dentro de pouco tempo, bastaria apenas o protegido ser destruído. Logo que isso acontecesse, teria sua paz restabelecida. Mas enquanto esperava, se desesperava. Tentava se convencer que não era o culpado por todas aquelas mortes, que aquilo tudo era apenas um espetáculo, mas lhe parecia tão real.
Um dia, enfim, percebeu que ele era apenas o lugar onde as batalhas eram travadas. Convenceu-se de que não adiantaria perder seu sono por tudo aquilo que acontecia ali. Pensando que os espetáculos aconteceriam, ele querendo ou não, pode enfim dormir.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lua

Ela olhou pro céu, a lua brilhava amarela, ainda baixa. Alguns filetes de nuvens passavam pela frente daquela esfera encantadora. Ele segurou as mãos dela, colocou-as sobre os olhos e a fez andar, sem que ela pudesse ver. Apesar de não saber onde pisava, ela andava leve, com a imagem daquela lua em seus olhos fechados. Quando ele a fez parar e abriu seus olhos, sentiu-se envolvida por aquela luz que iluminava o campo onde estavam. Não fosse a lua, estariam mergulhados em breu.
Os dois deitaram na grama, abraçados, admirando aquele espetáculo de um só astro brilhando num céu sem estrelas. Ali ficaram em silêncio, transmitindo um ao outro todo aquele encanto, aquela alegria de estar ali, daquele jeito, inebriados por aquelas sensações.
Ele acariciava os cabelos macios dela, o rosto redondo que tanto admirava. Ela desejava que o tempo parasse, queria que nada mais existisse, ao menos naquela noite, para que aquele sentimento que os envolvia fosse aproveitado ao máximo. Ele queria ficar ali para sempre, ao lado daquela que ele tanto gostava.
A lua já não brilhava amarela, mas sua beleza ainda era incrível. Por causa do frio que fazia ali, ele acendeu uma fogueira pequena, mas suficiente para os dois. Envolveu sua menina com a blusa que havia trazido e ali os dois adormeceram. Quando viu, a lua começava a dar lugar a sol. Acordou sua menina – ele adorava chamá-la de minha menina – para que juntos pudessem ver o sol nascer. Ainda abraçados, admiravam mais aquele espetáculo, e em silêncio, para que pudessem ouvir o canto dos pássaros e a música que dava cor àquele momento.
E como o que é bom precisa acabar para que possa então ser lembrado, eles foram embora. Estavam leves, tão leves que pude vê-los flutuar.