domingo, 28 de março de 2010

Post emprestado...

Como ando sem criatividade, nem tempo, vou postar aqui uma crônica do Rodrigo Levino. Recebi uma versão em PDF do livro desse cara, um amigo me mandou, e os contos dele acabaram até influenciando meu modo de escrever. Gostei demais. Agora chega de enrolação... Vamos à crônica!


KITCH

Abaixa um pouco, o ombro deixando cair a fina alça da blusa. Sorri, mordendo os lábios após abaixar o rosto e deixar os cabelos curtos cobrirem seus olhos. Sente o desejo entrecortado pelo torpor. O arrepio leve nos pelos do corpo inteiro escoa e ecoa num gemido fortuito.
Sozinha. Não espera por mãos que possam cobrir seus poros, nem uma língua que cultue a lascívia do seu corpo. Tem tido dias assim, de completa solidão, uns goles de vinho barato e cigarros deixados na metade.
Não quer desperdiçar o desejo num rosto sem nome. Cansou. Decidiu que, de duas semanas atrás em diante, será démodé e cafona, apostando umas fichinhas num amor bem breguinha e piegas como as baladas de Barry White.
Anda descalça pela casa, saltando pelos cantos silenciosamente pra não assustar os amores que, às vezes, se escondem atrás das portas e dos móveis. Encolhe-se na ponta do sofá agarrando as pernas e descansando o rosto sobre os joelhos.
Há sempre muitos mistérios gostosos na espera cálida por amores breguinhas e piegas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Espera

Ela esperou que ele aparecesse. Queria apenas conversar. Queria contar seu dia, falar do fim de semana, das coisas que fez desde a última vez que se falaram. Queria ouvir o que ele tinha para contar. Há dias não se falavam direito. Desejou que ele chegasse para acalmar a solidão que apertava seu peito. Não gostava de esperar, mas esperava. Não queria depender, mas não podia evitar a necessidade da companhia. Isso a contradizia, mas queria vê-lo. Precisava vê-lo.
Então ela esperou, colocou-se à disposição, ficou lá, como quem não quer nada, mas certa do que esperava. E ele não apareceu. Ela esperou mais um pouco, mas parecia não adiantar. A solidão em seu peito não podia ser diminuída por quem ela encontrava. Parecia que só ele seria capaz de tirá-la daquela angústia que aumentava a cada pessoa com quem ela falava. Não encontrava em qualquer um o que precisava. Nem mesmo sabia se encontraria nele o que queria, mas era ele a esperança do momento.
E ela continuou ali, como se não houvesse mais o que fazer, desejando que ele aparecesse em seu cavalo branco, a libertasse daquela torre e a salvasse da maldição da bruxa. Mas ele não era um príncipe encantado, nem mesmo ela era uma princesa inocente. E sua vida, principalmente, não tinha nada de conto de fadas. Ele não apareceu.