Como ando sem criatividade, nem tempo, vou postar aqui uma crônica do Rodrigo Levino. Recebi uma versão em PDF do livro desse cara, um amigo me mandou, e os contos dele acabaram até influenciando meu modo de escrever. Gostei demais. Agora chega de enrolação... Vamos à crônica!
KITCH
Abaixa um pouco, o ombro deixando cair a fina alça da blusa. Sorri, mordendo os lábios após abaixar o rosto e deixar os cabelos curtos cobrirem seus olhos. Sente o desejo entrecortado pelo torpor. O arrepio leve nos pelos do corpo inteiro escoa e ecoa num gemido fortuito.
Sozinha. Não espera por mãos que possam cobrir seus poros, nem uma língua que cultue a lascívia do seu corpo. Tem tido dias assim, de completa solidão, uns goles de vinho barato e cigarros deixados na metade.
Não quer desperdiçar o desejo num rosto sem nome. Cansou. Decidiu que, de duas semanas atrás em diante, será démodé e cafona, apostando umas fichinhas num amor bem breguinha e piegas como as baladas de Barry White.
Anda descalça pela casa, saltando pelos cantos silenciosamente pra não assustar os amores que, às vezes, se escondem atrás das portas e dos móveis. Encolhe-se na ponta do sofá agarrando as pernas e descansando o rosto sobre os joelhos.
Há sempre muitos mistérios gostosos na espera cálida por amores breguinhas e piegas.
domingo, 28 de março de 2010
quarta-feira, 3 de março de 2010
Espera
Ela esperou que ele aparecesse. Queria apenas conversar. Queria contar seu dia, falar do fim de semana, das coisas que fez desde a última vez que se falaram. Queria ouvir o que ele tinha para contar. Há dias não se falavam direito. Desejou que ele chegasse para acalmar a solidão que apertava seu peito. Não gostava de esperar, mas esperava. Não queria depender, mas não podia evitar a necessidade da companhia. Isso a contradizia, mas queria vê-lo. Precisava vê-lo.
Então ela esperou, colocou-se à disposição, ficou lá, como quem não quer nada, mas certa do que esperava. E ele não apareceu. Ela esperou mais um pouco, mas parecia não adiantar. A solidão em seu peito não podia ser diminuída por quem ela encontrava. Parecia que só ele seria capaz de tirá-la daquela angústia que aumentava a cada pessoa com quem ela falava. Não encontrava em qualquer um o que precisava. Nem mesmo sabia se encontraria nele o que queria, mas era ele a esperança do momento.
E ela continuou ali, como se não houvesse mais o que fazer, desejando que ele aparecesse em seu cavalo branco, a libertasse daquela torre e a salvasse da maldição da bruxa. Mas ele não era um príncipe encantado, nem mesmo ela era uma princesa inocente. E sua vida, principalmente, não tinha nada de conto de fadas. Ele não apareceu.
Então ela esperou, colocou-se à disposição, ficou lá, como quem não quer nada, mas certa do que esperava. E ele não apareceu. Ela esperou mais um pouco, mas parecia não adiantar. A solidão em seu peito não podia ser diminuída por quem ela encontrava. Parecia que só ele seria capaz de tirá-la daquela angústia que aumentava a cada pessoa com quem ela falava. Não encontrava em qualquer um o que precisava. Nem mesmo sabia se encontraria nele o que queria, mas era ele a esperança do momento.
E ela continuou ali, como se não houvesse mais o que fazer, desejando que ele aparecesse em seu cavalo branco, a libertasse daquela torre e a salvasse da maldição da bruxa. Mas ele não era um príncipe encantado, nem mesmo ela era uma princesa inocente. E sua vida, principalmente, não tinha nada de conto de fadas. Ele não apareceu.
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