quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Madrugadas

A cama parecia cada vez maior, por isso espalhava travesseiros sobre ela. Não gostava de espaços vazios. Procurava, no escuro, mais cobertas. Fazia frio. Queria o outro corpo para esquentar o seu. Não há coberta quente o bastante para aquecê-lo como ele gosta. Os travesseiros não podiam dar a ele o que queria, nem mesmo as mãos. Mas ele aprendeu a usá-las, ao menos por enquanto. Tentava encurtar as noites, mas as madrugadas em claro faziam o tempo passar mais lentamente.
Uma noite, ele se cansou de não mais dormir. Saiu em busca de companhia. Altas horas da madrugada, decidiu ir àquela rua que tanto freqüentava. Avistou alguém. Parou o carro, ela entrou. Acertaram os detalhes e seguiram a um lugar mais reservado, mais propício. Nada romântico, apenas seguro. Não queria encrencas.
Serviço feito, tempo esgotado. Deixou-a onde a encontrou e seguiu para casa. Estava nojento, suado, como se tivesse corrido uma maratona. Fora rude, bruto, queria acabar de vez com aqueles desejos. Ao chegar em casa, tomou um banho e foi se deitar. O amanhecer já começava a despontar e a cama estava novamente cheia de travesseiros. Deitou-se e o frio voltava a tomar conta de seu corpo. A solidão voltava a apertar. Todo o esforço fora em vão. Nada seria capaz de substituir aquela que um dia encheu sua cama e aqueceu-lhe o corpo.