quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Madrugadas

A cama parecia cada vez maior, por isso espalhava travesseiros sobre ela. Não gostava de espaços vazios. Procurava, no escuro, mais cobertas. Fazia frio. Queria o outro corpo para esquentar o seu. Não há coberta quente o bastante para aquecê-lo como ele gosta. Os travesseiros não podiam dar a ele o que queria, nem mesmo as mãos. Mas ele aprendeu a usá-las, ao menos por enquanto. Tentava encurtar as noites, mas as madrugadas em claro faziam o tempo passar mais lentamente.
Uma noite, ele se cansou de não mais dormir. Saiu em busca de companhia. Altas horas da madrugada, decidiu ir àquela rua que tanto freqüentava. Avistou alguém. Parou o carro, ela entrou. Acertaram os detalhes e seguiram a um lugar mais reservado, mais propício. Nada romântico, apenas seguro. Não queria encrencas.
Serviço feito, tempo esgotado. Deixou-a onde a encontrou e seguiu para casa. Estava nojento, suado, como se tivesse corrido uma maratona. Fora rude, bruto, queria acabar de vez com aqueles desejos. Ao chegar em casa, tomou um banho e foi se deitar. O amanhecer já começava a despontar e a cama estava novamente cheia de travesseiros. Deitou-se e o frio voltava a tomar conta de seu corpo. A solidão voltava a apertar. Todo o esforço fora em vão. Nada seria capaz de substituir aquela que um dia encheu sua cama e aqueceu-lhe o corpo.

4 comentários:

leandrão cardoso disse...

posso dar uns pitacos por aqui?
ó, gostei desse texto. mesmo! a forma como você construiu uma busca pela completude ficou legal - gostei da imagem dos travesseiros sobre a cama.
e quero destacar dois pontos: o primeiro é birra pessoal mesmo, admito e confesso, mas porque períodos tão curtos? não vi necessidade de velocidade no texto, muito pelo contrário. Me parece que uma construção sintática um pouco mais pesada - com períodos mais longos, com apostos, subordinações e que tais - poderia dar uma sensação maior de monotonia, ou de incômodo e dificuldade mesmo pro teu texto (o que acrescentaria, acho).
o segundo:
"Todo o esforço fora em vão. Nada seria capaz de substituir aquela que um dia encheu sua cama e aqueceu-lhe o corpo."
A tua narrativa conduz a essa constatação de que a substituição não seria possível, e isso foi percebido pelo caso com a prostituta - seja lá se foi uma prostituta ou não, isso não importa. Mas assim, se foi isso que tornou a percepção da impossibilidade de substituição inútil, talvez o esforço não tenha sido vão - o foi para a substituição, mas não para a percepção da sua impossibilidade.

veja aí o que achas!

Marina disse...

"e isso foi percebido pelo caso com a prostituta - seja lá se foi uma prostituta ou não"
e ele tem dúvida?!

leandrão cardoso disse...

não, não.
dúvidas eu não tenho. é que não interessa se é prostituta de fato e ofício ou não.

Amanda Ruiz disse...

Creio que você foi fria como deveria ser. Usou construções secas, diretas e breves, como a sua intenção de criar um personagem rude, mandava. Sara, você salvou o meu dia, há algum tempo eu não lia algo do gênero, que me dispertasse interesse.

Só posso dizer: Obrigada.