Era a convivência harmônica do preto e do branco. Era uma divisão simétrica. Por si só, era capaz de encantar. Mas não tinha escolha, seu destino era ser palco daqueles espetáculos assustadores. Era o lugar perfeito para aqueles movimentos todos, por menos que gostasse deles. Cada vez que uma nova apresentação se iniciava, não podia mais dormir.
E não poderia haver espetáculo sem bailarinos. Eles ficavam todos organizados, colocados em seus lugares a espera de um comando. Dispostos por ordem de importância tinham por função proteger o maior deles, o mais importante. A linha formada na frente era como um muro, mas que podia mover-se. Cada um com sua função batalhavam todos como em uma guerra. Seus movimentos eram coordenados por alguém ainda maior, ainda mais importante que aquele que era protegido. Alguém capaz de observar os dois lados da batalha. Alguém que lutava com outro alguém. Sim, eram dois. Dois seres responsáveis pelo comando daquela guerra. Cada um com seu exército, comandando de forma encantadora aquela batalha.
Duelos sangrentos podiam ser travados ali. Não que pudesse sentir o sangue dos guerreiros, mas cada vez que uma nova guerra começava, aquele palco se amedrontava. Não era capaz de expulsar os guerreiros, nem mesmo podia comandá-los. Quando eles chegavam, podia apenas observar mais uma guerra em andamento. Sabia que logo acabaria. Sabia que eles voltariam a seus lugares dentro de pouco tempo, bastaria apenas o protegido ser destruído. Logo que isso acontecesse, teria sua paz restabelecida. Mas enquanto esperava, se desesperava. Tentava se convencer que não era o culpado por todas aquelas mortes, que aquilo tudo era apenas um espetáculo, mas lhe parecia tão real.
Um dia, enfim, percebeu que ele era apenas o lugar onde as batalhas eram travadas. Convenceu-se de que não adiantaria perder seu sono por tudo aquilo que acontecia ali. Pensando que os espetáculos aconteceriam, ele querendo ou não, pode enfim dormir.
2 comentários:
Vc assistiu black swan (cisne negro)?
Você lembrou desse filme lendo esse texto, Marina?
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