Por ser envolvente e deliciosa a música daquela orquestra, ela tentava voltar os olhos para o palco, mas não conseguia. Aquele corpo ao seu lado a distraia. Não se cansava de admirar aquelas mãos que pareciam tão macias, com dedos finos e compridos, e que faziam com que acreditasse em teorias criacionistas. Olhava aqueles lábios redondos, carnudos o suficiente para fazer surgir nela a vontade de mordê-los. Ainda que sua cabeça repousasse naquele ombro acolhedor, sentia-se distante. Aproximava-se dele com cautela, sem saber o que fazer, apenas respondendo aos movimentos dele. Queria tocá-lo, queria acariciar aquelas mãos que a hipnotizaram, queria beijar aqueles lábios que a encantaram, mas tinha receio de algo que nem mesmo sabia o que era. Ainda assim, aproximava-se. Quando se deu conta, seus braços estavam entrelaçados e seus rostos ainda mais próximos. Mas suas mãos ainda não haviam se encontrado. Ela então buscava, calmamente, a mão dele. Sentindo a mão dela na sua, ele fez seus dedos se entrelaçarem, segurando firme aquela que o buscou, impedindo que ela saísse dali.
Acariciar aquelas mãos macias tornou-se um vício para ela, assim como eram viciantes as conversas entre os dois. Acostumou-se a deslizar seus dedos por entre os dele, pela palma, pelo dorso daquela mão. Ele ria, achando bonitinho isso de mãos. Ela parava, envergonhada. Mas logo voltava a sentir suas mãos se tocando. Ela não podia mais resistir àquelas tentadoras mãos. Nem mesmo ao dono delas...