Era um dia como outro qualquer. Na verdade, deveria ser, mas para ele não era. Tinha conversado com ela por horas até que conseguiu convencê-la a encontrar-se com ele no dia seguinte. E o dia seguinte era hoje.
Levantou da cama com a ideia de que a veria, mas tinha que se controlar, porque algo poderia acontecer e os planos poderiam mudar. Ela sempre fazia dessas. E ele sempre ficava esperando, por mais que ela não o pedisse. Então ele se arrumou como se fosse encontrá-la naquele momento. Pensou em tudo o que faria antes de vê-la. Esquematizou em sua cabeça como faria tudo o que tinha para fazer antes de ter a companhia dela de novo. Depois de tudo pronto, saiu.
O dia passou, veio a confirmação do encontro. E trouxe junto aquele nervosismo que há tempos não sentia. A hora passou mais devagar e as coisas perderam um pouco da cor. Mas ele suportou, decidido a não mais sentir nada disso.
Saindo do trabalho, pegou um ônibus e tentou ler qualquer coisa durante o trajeto, que, por mais curto que fosse, seria quase torturante com aquele frio na barriga. Mas quando desceu do ônibus, não pôde mais ocupar a cabeça, nem mesmo com a música que tocava nos fones em seus ouvidos e o isolava do resto do mundo. Aquela ansiedade que tanto sentia tempos atrás havia voltado, e não podia controlá-la. Caminhava devagar, respirava fundo, tentava acalmar-se. Conseguiu. Um pouco, pelo menos.
Quando chegou à lanchonete, ela estava sentada numa mesa com alguns amigos, uns já conhecidos dele, outros novos. Cumprimentou-a com um abraço apertado, daqueles que ele tanto gostava, daqueles que aumentavam seu nervosismo. Cumprimentou a todos com um aperto de mão e sentou-se. Ali estavam eles novamente, e era como se as outras pessoas não estivessem ali. Ele olhava para aquele rosto tão familiar, aquela boca que tanto lhe convidava a loucuras. E o tempo passava tão rápido, mas ele nem via, perdendo-se em toda aquela conversa que só fazia sentido porque podia ouvir a voz dela de novo.
Finalmente, teve a oportunidade que tanto queria: os amigos dela foram embora, deixando os dois sozinhos em meio àquela multidão que tornava a lanchonete tão barulhenta. E eles conversaram, riram, ficaram sérios, falaram de como era antes, de como era com eles. E ele disfarçava seus pensamentos com sorrisos, concordando cada vez que ela dizia que tinha valido a pena. Por mais que, em algum canto de seu ser, ele quisesse abraçá-la e dizer que não queria mais ficar longe, ele sorria. Ainda que tivesse conseguido esconder tão bem dos outros, até de si mesmo, e por tanto tempo aquele sentimento, alguma coisa fez que tudo fosse revelado, mas só para ele. Tudo aquilo de que tentara livrar-se há algum tempo, e que acreditava ter conseguido, voltava a atormentá-lo e encantá-lo.
Ela então se deu conta de como estava tarde e de que precisava ir embora. Ele, como sempre, disse que tudo bem. Ele a acompanhou até seu carro, despediu-se dela com mais um abraço aconchegante e a viu partir. Ele seguiu seu caminho a pé, pensando em como era linda, encantadora, e em como ela destinava a outro as delícias de ser seu namorado.
Um comentário:
achei o personagem masculino de uma mentalidade bastante feminina e a caracterização que ele faz dela faz dela bastante masculina. achei os personagens bastante esféricos por isso; é impossível definir categoricamente o que um homem ou uma mulher podem ou não pensar - afinal, às vezes, meninos são sensíveis como só meninas podem ser e, às vezes, as meninas são fortes como só meninos deveriam conseguir.
tudo isso pra dizer que gosto do texto!
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