Enquanto espera o tempo passar, sem muito desejo de fazer coisa alguma, ela observa o mundo do alto. Os carros, as pessoas, os sons. Tudo se mistura naquela pequena imensidão que seu campo de visão pode alcançar. Os dias ali passados tiveram cores e sons diferentes, momentos diferentes, sensações distintas. O gosto ruim na boca, o barulho do ventilador, o som do elevador subindo e descendo. Os mínimos detalhes que ela só percebia em seus momentos de silêncio. Momentos que ali ela não passará mais. Está indo embora. Pensa no que será dali pra frente, mas não faz muita questão de obter uma resposta. Essa incerteza a amedronta, e a diverte.
Aquele lugar onde passou suas tardes nos últimos meses, agora a cansa, a faz perder o ânimo. Aquela janela, de onde viu as ruas movimentadas, ouviu buzinas, gritos e músicas; de onde desejou saltar e sair voando, agora mostra apenas cores feias e misturadas, sons irritantes e altos. Uma prisão de espírito é o que se tornara aquele lugar para ela.
Tudo o que deseja é ser livre de novo. É sentir o cheiro da chuva nas tardes de verão. É apreciar uma boa companhia numa tarde ensolarada. O que ela mais quer agora é aproveitar a chance do recomeço. A chance de mudar, de fazer diferente, de sonhar. Ela deseja um novo rumo, um novo caminho a seguir, onde as coisas que faziam parte de seus dias, sua rotina, precisam ser deixadas, guardadas apenas na lembrança. Ela sabe que tem uma nova história a escrever, com novos personagens, novos dilemas e novos amores. E chegou a hora de começar.